Olá pessoal,

Na semana passada, enquanto eu olhava alguns grupos no whatsapp, vi um colega pedindo indicação de livro ou artigo sobre o sistema de saúde privado no Brasil.

Nós começamos a puxar diversas referências, mas a verdade é que falta um documento de fácil leitura, prático, ilustrativo e gratuito (um dos livros custava R$ 293,00 😬). Logo, resolvi começar a estruturar a base deste documento (talvez um ebook) que possa ajudar outras pessoas a entenderem como funciona o sistema, seus atores e suas relações.

Tempo de leitura : 5 minutos

💬 Em pauta

O sistema de saúde privado no Brasil: uma análise inicial

Uma das melhores formas que encontrei para definir esse sistema foi:

Uma complexa teia de relações que envolve vários atores - ou stakeholders - com papéis variados e interligados entre si.

São eles:

•  Pacientes - identificados no centro pela sua relação de consumidor na cadeia. (mas não devemos entender que eles são os principais pagadores ou que as ações dos outros atores têm o bem-estar e qualidade de vida dele como foco);

• Planos de saúde;

• Corretoras;

• Prestadores de serviço - este é um grupo grande e diverso, que vamos explorar mais adiante;

• Farma (indústria farmacêutica);

• PBMs [pharmacy benefit management, que foi abrasileirado (e não traduzido) para programa de benefício de medicamentos];

• Startups (empresas à procura de um modelo de negócios repetível e escalável - algo complexo no sistema de saúde brasileiro, com as suas diversas exceções das exceções);

• Biotech / devices - empresas que desenvolvem produtos e dispositivos não embarcados nas soluções da indústria farmacêutica. Ex: marcapasso cardíaco;

• Grupos de interesse - Agentes públicos ou privados que atuam em prol de um grupo de stakeholders. Ex: Conselho federal de medicina - em defesa dos médicos, FenaSaúde (Federação nacional de saúde suplementar) - em defesa dos planos de saúde.

Pacientes

No centro do sistema de saúde privada estão os pacientes, aqueles que procuram e necessitam dos cuidados médicos e de saúde. São consumidores dos produtos e serviços ofertados. No Brasil, cerca de 24% da população opta por um plano de saúde privado (50,5 milhões de pessoas), buscando um atendimento mais rápido e abrangente do que o oferecido pelo sistema público (na teoria).
Apesar de estarem no centro do diagrama, os pacientes não são os principais pagadores. Por trás dos pacientes, quero que você veja um outro ator, que fica oculto 👀 , mas é a engrenagem principal neste sistema e fica responsável por pagar 70% da conta de plano de saúde no Brasil, logo terá papel decisor nesta cadeia - a empresa que fornece plano de saúde para o seu time.

Planos de saúde

As instituições que comercializam planos de saúde são:

• Seguradoras (Ex: Bradesco, Allianz, Porto Seguro);

• Operadoras (Unimed, Amil, Hapvida/Intermédica, Prevent Senior, Alice).

No Brasil, os planos são extremamente diversificados, variando em termos de cobertura, custo e serviços oferecidos. Eles podem ser individuais, familiares ou empresariais, e são regulamentados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que define o reajuste dos planos individuais, mas não dos empresariais, que dependem do cálculo estabelecido em cada apólice.

Cerca de 50% das apólices de plano de saúde empresarial tem co-participação, que é um valor descontado do salário dos colaboradores após uso de consultas e exames simples.

Corretoras

As corretoras de planos de saúde são intermediárias entre as empresas e os planos de saúde. Elas atuam na venda e na gestão dos contratos de saúde, auxiliando os clientes a escolherem o plano mais adequado às suas necessidades e ao seu orçamento. Nós últimos anos o seu papel tem sido ampliado, atuando também na gestão de saúde dos colaboradores e dependentes.

Prestadores de serviço

Os prestadores de serviço são uma parte crucial do sistema de saúde privada. Eles incluem hospitais, clínicas, laboratórios e profissionais de saúde, como médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, etc.

Eles são responsáveis pela prestação direta de cuidados de saúde aos pacientes, e seu desempenho tem um impacto direto na qualidade do atendimento ao paciente.

Indústria farmacêutica

A indústria farmacêutica produz e distribui os medicamentos que são usados para prevenir, tratar e curar doenças. No Brasil, esta indústria é forte e bem desenvolvida, com muitas empresas locais e internacionais operando no mercado. Ela interage diretamente com outros stakeholders do sistema de saúde, através da negociação de preços e disponibilidade de medicamentos.

PBMs

As PBMs atuam na negociação entre a indústria farmacêutica, planos de saúde e farmácias, conectando as pontas para distribuição e precificação dos produtos, além da fidelização dos pacientes.

BioTech / Devices médicos

Dispositivos como marca-passos cardíacos, próteses e órteses (OPME) são produzidos e distribuídos por empresas nacionais e internacionais, que fazem parte do ecossistema de saúde nacional. Produtos de alto custo como próteses passam estão começando a passar por processos de credenciamento nas operadoras de saúde para padronizar a sua compra e implantação em grande centros hospitalares.
Grupos de prestadores hospitalares (como a Rede D'Or) avaliam e credenciam estes fornecedores para pedidos de compra maiores.

Startups

São empresas financiadas (em sua maior parte) por fundos de investimento de capital de risco (venture capital) focadas em criar soluções repetíveis e escaláveis por meio de tecnologia. Um case de sucesso é a Bionexo, focada na compra de insumos para hospitais e clínicas, que já fatura 16bi por ano.

BioNexo » Plataforma que conecta clínicas, hospitais e instituições de saúde com fornecedores de suprimentos médicos, encerrou 2021 com recorde de R$ 16 bilhões em transações no marketplace, cifra 33% superior à registrada no ano anterior. Deste total, R$ 2,2 bilhões foram somente de OPMEs (órteses, próteses e materiais especiais).

Grupos de interesse

Há outros stakeholders envolvidos no sistema de saúde privada brasileiro. Estes incluem organizações de pesquisa e desenvolvimento, associações de classe, órgãos reguladores, entre outros. Cada um tem um papel específico na manutenção e melhoria do sistema de saúde.

Conselho Federal de Medicina » Advoga pelo aumento do pagamento dos procedimentos médicos.

ANS (Agência nacional de saúde) » Órgão e regulação e fiscalização dos planos de saúde.

FenaSaúde (Federação nacional de saúde suplementar) » Atua em defesa dos planos de saúde, muitas vezes fazendo o contrapeso em relação à regulação da ANS.

PS: Alguns pontos importantes:

• Dentro dos atores no diagrama, existem diversos sub-atores que eu ainda não entrei no detalhe;

• Existe forte relação direta entre atores também, sem passar necessariamente pelos pacientes ou empresas. Ex: a relação entre PBM e Farma.

• Quando olhamos para financiamento, também existe uma teia adicional de conexões correndo em paralelo, com interesses diversos.

❇️ Recomendações

Livro sobre foco intenso

O livro Deep Work (Cal Newport) me ajudou a entender melhor como organizar as minhas sprints diárias de foco e os dias (geralmente fins de semana) com foco intenso fora de casa - geralmente em um hotel. Sair da rotina e usar um hotel como ambiente externo para dar um gás em produtividade foi como a J.K Rowling acabou o último livro do Harry Potter. Este também é o formato que o Bill Gates usa nas suas semanas de foco, em que ele leva livros e se desconecta completamente do mundo externo. Foi em uma dessas jornadas que ele resolveu aprender tudo sobre machine learning por exemplo.

Copiloto AI para médicos

Fiz alguns testes com o Glass AI, um modelo de linguagem (LLM) com um banco de dados de conhecimento clínico, criado e mantido por médicos, que gera como output diagnósticos diferenciais e planos terapêuticos.
Se você descreve um quadro de um paciente com diabetes tipo 2 descontrolada, ele já sugere como as medicações podem ser otimizadas a nível ambulatorial (por exemplo).

🛠️ Hacks de produtividade

Hoje a minha velocidade de digitação é bem baixa (25 WPM - palavras por minuto), o que acaba deixando a minha produção de conteúdo no Linkedin mais lenta. Por isso comecei a usar uma ferramenta que ajuda a aumentar essa velocidade em uma plataforma gamificada - o Typeclub. Espero chegar em pelo menos 80-90 WPM nos próximos meses 🚀 .

💭 Citação

Sou fã do Gary Vee. Ele tem um estilo meio “arraste pra cima”, mas os fundamentos são bons e o jeito de vender é incrível. Ele vem para o Brasil esse ano para uma palestra no Fire Festival, que acontece em Belo Horizonte.

Via Readwise

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Domingo que vem tem mais,

Bora Marta! 🇧🇷 

Thiago Liguori (Doc)