# 43. O novo cenário da Medicina em 2035

Olá pessoal,

Saíram muitas notícias (essa e essa também) nas últimas semanas sobre como a Medicina e demografia médica estão mudando.

E realmente estão.

Está surgindo um perfil mais jovem, com predominância feminina e e atuação mais generalista. (estudo Demografia médica 2023).

Em relação a remuneração médica, ela tem ficado (em muitos casos) congelada nos últimos 10 anos, com pouco ou nenhum reajuste para a inflação.

Por exemplo, o meu salário permaneceu praticamente o mesmo nos 8 anos atuando na UTI do Hospital das clínicas (USP).

Será que a maior oferta de profissionais estaria influenciando isso diretamente?

Estou vendo 3 fenômenos acontecendo ao mesmo tempo:

→ Aumento da abertura de faculdades de Medicina
→ Aumento do número de médicos no Brasil
→ Primeiras faculdades com vagas “sobrando”

Parece que a demanda para cursar Medicina é grande e segue aumentando.

Mas o alto custo médio da faculdade, associado ao aumento de restrições do Pro-Uni / FIES está contribuindo para atingirmos um ponto de equilíbrio nacional.

Associado a isso, estamos vendo um crescimento no número de brasileiros cursando Medicina no exterior, na esperança de revalidar o seu diploma após a graduação.

Realmente a Medicina está mudando.

Eu trouxe mais dados nessa newsletter do que respostas sobre o futuro.

Mas vamos juntos atrás dos insights!

Tempo de leitura : 5 minutos

💬 Em pauta

“A Medicina está perdendo a sua tradição".

“Estamos de mal a pior”.

Isso é algo que você ouve com certa frequência nos corredores dos hospitais dos grandes centros.

Será que estamos passando por um processo de commoditização do médico e aumento descontrolado de novos profissionais?

Vamos aos fatos.

Aumento da abertura de faculdades de Medicina

O Brasil tem hoje 598.573 médicos, em uma densidade de 2,81 médicos / 1.000 habitantes, o que é positivo, pensando que nos EUA esse indicador fica em 2,6.

Mas não é bem assim.

Ainda temos 3 problemas sérios:

1. Má distribuição
Brasília tem 6 médicos / mil habitantes, enquanto o Maranhão tem 1 médico / mil habitantes. 🫠 

2. Baixo volume (proporcional) de formação de especialistas
O perfil dos novos médicos têm sido focado mais para a atuação como generalistas.

3. Sistema privado sugando os talentos
A maior parte dos especialistas acabam atuando na assistência privada, o que gera uma falta de profissionais no SUS, principalmente fora dos grandes centros.

Esse desequilíbrio leva a um país que está acelerando a sua formação de médicos, mas precisa equalizar melhor a sua força de trabalho.

Mesmo na formação, o maior número de faculdades está SP, MG, BA e RJ.

Para tentar resolver isso, o MEC fez uma chamada pública para 5.700 vagas de Medicina, em um total de 95 novos cursos, tentando equilibrar o cenário atual e reforçar a força de trabalho do SUS.

Foram listados 1.719 municípios (com menos de 2,5 médicos por mil habitantes) que poderiam abrir uma nova faculdade.

Aumento do número de médicos no Brasil

Na década de 90, a proporção de entrada e saída de médicos era relativamente estável.

Mas desde 2010, a entrada anual de médicos no mercado de trabalho aumentou em 3x, resultado do boom de novas faculdades na primeira década do milênio.

Estima-se que o Brasil chegue a 1 milhão de médicos em 2035, eu uma taxa de 4,4 médicos / mil habitantes.

Primeiras faculdades com vagas “sobrando”

Certo, e como anda essa nova demanda de estudantes pela novas vagas?

Parece estar chegando em um teto.

O problema?

O curso ainda é muito caro para boa parte da população que gostaria de ingressar. Preço médio de R$ 10.400,00 / mês.

Em 2022, cerca de 1 milhão de estudantes prestou Medicina, com um recorde de 245.501 alunos matriculados, alta de 25% em relação a 2018.

Mas cerca de 80% deles não tem renda própria e dependem da família.

Olha esse dado que interessante:

Apenas 55% dos alunos têm renda familiar acima de R$ 5.724,00.

E se associarmos esses dados:

Temos um total de 1 milhão de pessoas no Brasil que poderiam “bancar” uma faculdade de Medicina para os seus filhos.

Mas já temos 1 milhão de estudantes aplicando.

Então talvez já estamos próximos de atingir esse equilíbrio.

Ou não?

Existe uma parte da população (80%) com renda inferior aos R$ 5.724,00 que pode representar uma onda de demanda pelo curso, mas sem o capital para pagar o preço médio de 10k por mês.

Este grupo está indo fazer Medicina em países como Paraguai e Bolívia, atraídos pela facilidade de ingresso no curso (quase nenhuma realiza vestibular) e por uma mensalidade de R$ 700 a R$ 2.000,00 / mês.

No entanto, muitas delas funcionam de forma irregular, sem habilitação e validação da secretaria de educação local. (não são todas, claro).

O número de alunos brasileiros fazendo Medicina em países sul-americanos tem crescido ano a ano, o que levou a um aumento de 1.336% na busca pelo exame “Revalida”, para validação do diploma estrangeiro de Medicina no Brasil.

As taxas de aprovação tem ficado em torno de 19%.

Opinião

Eu acredito que a somatória de todos esses fatores pode levar a um fenômeno em 2035, ainda não visto no Brasil:

— A queda da remuneração do médico generalista em algumas regiões.

Ou seja, o médico começando a ganhar menos pelas mesma horas trabalhadas, simplesmente por um desequilíbrio oferta / demanda de profissionais sem especialização nos grandes centros.

Com uma taxa que pode passar 5 médicos / mil habitantes, podemos atingir um “limite” de capacidade?

Me conta a sua opinião.

O que você acha que deve acontecer?

PS: Eu também não pensei em uma solução clara para isso.

❇️ Recomendações

Livro sobre Vendas

Vou te dizer… Eu era muito ruim em Vendas. Mas evolui bastante nos últimos 2-3 anos. E agora estou começando a me aprofundar em técnicas e estratégia para melhorar.

Estou lendo esse livro chamado “Sales EQ” do Jeb Blount que comprei por acaso em um aeroporto. Mas estou achando os insights muito válidos e bem didática (mesmo para quem está começando do zero).

💭 Citação

Essa UTI na Flórida decidiu incorporar vários algoritmos de machine learning para melhorar a identificação de pacientes com algum tipo de risco em saúde.

Vale a leitura.

Por hoje é só!

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Domingo que vem tem mais,

Abraço!

Thiago Liguori