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#24. 🟠 O que está acontecendo com a Hapvida?
Olá pessoal,
Tenho acompanhado o Grupo Hapvida Notredame Intermédica há alguns anos e decidi me aprofundar nos números e indicadores da empresa nesta edição da carta.
Assisti a diversas reuniões de resultados trimestrais com investidores, li relatórios financeiros, opiniões de especialistas e juntei com a minha experiência pessoal para criar um visão mais ampla do que aconteceu com a empresa nos últimos anos.
O mercado de saúde privada está em um momento delicado, mas principalmente para a maior operadora do país, que possui hoje 8,9 milhões de beneficiários de plano de saúde. (com o plano odonto chega a 16 milhões).
Apesar da perder mais de 80% do seu valor nos últimos 2 anos, eu acredito em uma recuperação, o que pode parecer estranho para alguns analistas financeiros, mas o mercado de saúde brasileiro tem algumas particularidades que dificultam que novos entrantes "roubem” a fatia de clientes da operadora.
Além disso, no cenário atual, as empresas estão ávidas por planos de saúde low cost, que foi a principal engrenagem para o crescimento meteórico da empresa de 2014 a 2020.
Boa leitura!
Tempo de leitura : 5 minutos
💬 Em pauta
O Grupo Hapvida Notredame Intermédica tem números que impressionam:
8,9 milhões de beneficiários (com 17,5% de market share). Se somar com odonto, chega a 16 milhões.
Maior rede de hospitais do Brasil (87 unidades), a frente da Rede D'Or, que possui 73.
Maior sistema de saúde suplementar da América Latina, com 331 clínicas, 77 PAs e 269 laboratórios.
Já foi uma das 10 maiores empresas do Brasil, com valor de mais de R$ 100 bi.
Mas vamos voltar um pouco para entender como a empresa chegou aqui.
Tudo começou em 1979, com o Dr. Cândido Pinheiro Kohen Lima e uma pequena clínica em Fortaleza-CE.
Foram décadas de crescimento pela região Nordeste e Norte do país, até chegar a mais de 4 milhões de usuários.
Em 2018, com o caixa cheio, um modelo inovador de verticalização e controle de custos, o crescimento inorgânico por meio da aquisição de operadoras parecia ser o melhor caminho.
Neste momento, começa uma sequência de compras - Grupo São Francisco, Grupo São José, hospitais, clínicas… culminando com a maior operação da rede privada de saúde brasileira - a fusão com a Notredame Intermédica, em uma transação de R$ 115 bilhões.
A sinergia das duas operadoras parecia clara e o mercado apostava todas as fichas nisso (a maioria dos grandes fundos tinha ações da empresa).
A pandemia aumentou o hype e a valorização de empresas de saúde.
Associado a isso, a sinistralidade atingiu os menores níveis históricos, resultando em recorde de faturamento e lucro.
Mas nem tudo são flores.
Em 2021 e 2022, o cenário começa a mudar. Toda a demanda represada da pandemia volta aos hospitais e clínicas.
Mas de uma forma diferente. Esse aumento de demanda persiste mesmo após o chamado “efeito rebote”, levando a alto custo operacional e sinistralidade mais alta do que os níveis pré-pandemia. (o comportamento do beneficiário mudou, mais preocupado e atento à sua saúde).
Neste momento, a empresa começa a ter dificuldades de repassar o alto sinistro aos preços dos planos por meio de reajuste (ser uma empresa low cost tem o seu preço).
Resultado:
Queima de caixa
Aumento da dívida líquida
Diminuição da margem de lucro
Prejuízo operacional
Mas por que só a Hapvida?
Todas as operadoras sofreram e continuam sofrendo com a crise no setor - alta sinistralidade, desperdício, fraude e prejuízo operacional. (com raras exceções).
Mas alguns fatores contribuíram para uma tempestade perfeita na empresa:
- Dificuldade em repassar custo nos contratos empresariais
- Grande parte do foco da gestão na fusão com a GNDI
- Aumento considerável da dívida líquida
Isso levou o mercado a questionar a solvência da empresa - será que ela para em pé?
Para corrigir o rumo do navio e ajustar o balanço, a família Pinheiro, que detêm 77% das cotas da empresa, resolveu iniciar uma série de medidas emergenciais, que incluíram:
1. Vender empresas que não faziam parte do core, como a Maida Health - software para gestão de plano de saúde, para a o Grupo MV (prontuário eletrônico).
2. Emitir novas ações da empresa para levantar capital, em um processo chamado follow-on, sendo que a família comprou R$ 360 milhões deste pacote.
3. Vender 10 hospitais da rede. A família comprou com capital próprio e alugou para a operadora, em um processo chamado "sale and leaseback”.
Depois deste movimento, a empresa começa a mostrar bons resultados e sinais de recuperação, como:
- Aumento do ticket médio em 11,8% (R$ 251,80)
- Aumento da verticalização (uso da rede própria), que saiu de 71,9% (2022) para 74,8% (2023)
- Redução da dívida líquida com venda de ativos.
O ano de 2024 começou intenso, com uma investigação do Ministério público relacionado a um suposto descumprimento de decisões judiciais. São cerca de 80 liminares que não teriam sido cumpridas.
Neste cenário, o que você acha que irá acontecer em 2024 com a empresa?
Pode me responder direto neste e-mail ou me contar no comentário do post do Linkedin que sai amanhã cedo : )
PS: Eu não sou especialista financeiro e essa não é uma recomendação de compra ou venda das ações.
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