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🎗️ Polêmica no rastreio do câncer de mama - início aos 40 ou 50 anos?

Olá pessoal,

Essa semana começou a circular uma polêmica sobre o rastreio do câncer de mama no Brasil.

Ela é relacionada a uma consulta pública feita pela ANS em Dezembro e concluída na semana passada, que sugeria uma alteração nos critérios do “selo de qualidade” para operadoras do Programa de boas práticas em atenção oncológica (conhecido como OncoRede).

O ponto principal foi:

Sugestão do início de rastreio para mulheres aos 50 anos de idade (ao invés do que já é estabelecido na DUT - diretriz de utilização, aos 40 anos).

Isso ficaria em linha com o preconizado pelo SUS, mas diferente com que as sociedades médicas CFM recomendam.

Nesse contexto eu fiquei pensando…

Para o cenário brasileiro, nós deveríamos usar 40 ou 50 anos como início do rastreio?

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Tempo de leitura : 5 minutos

💬 Em pauta

O câncer de mama é o tipo mais frequente no Brasil e no mundo (excluindo câncer de pele).

Apesar de raro, os homens também podem desenvolver, com incidência de 1% (INCA 2021).

No Brasil, temos sofrido bastante, já que:

  • 40% dos casos são detectados de forma tardia 😢 

  • 22% das mortes são em mulheres com < 50 anos

  • 40% dos casos são diagnosticados em fase avançada (estadio III e IV)

Ou seja, muito para melhorar.

Mas a discussão atual está relacionada a esta consulta pública da ANS 👇️ (encerrada em 24/01).

Algumas pessoas estão chamando de “retrocesso”, então fui me aprofundar para entender o contexto.

A repercussão foi tão grande que a ANS publicou uma nota para avisar que não haverá qualquer mudança no Rol, ou seja, a cobertura do exame continua como estava, sem alteração na possibilidade de início de rastreio. (foi só relacionado ao OncoRede ok pessoal? 😉 )

O que temos hoje no Rol da ANS é a cobertura obrigatória para o exame a partir dos 40 anos.

Até o CFM emitiu uma nota, mostrando preocupação com o alinhamento das orientações do SUS, subindo a idade mínima no sistema privado para 50 anos.

Detalhe importante: O rastreamento populacional sempre leva em consideração uma balança entre incidência (número de novos casos), efetividade do método de rastreio (nesse caso a mamografia) e custo-efetividade para fazer isso em milhões de pessoas.

Ou seja, não é uma resposta tão simples.

Mas como está o resto do mundo? Todo mundo com 40 anos?

Nos EUA, houve mudança recente (2024) para início do rastreio aos 40 anos, baseado nas recomendações da US preventive task force.

Na Inglaterra, o screening do NHS (SUS inglês) é a partir dos 50 anos.

E no resto da Europa o cenário é parecido. Neste levantamento europeu, o screening para câncer de mama começa aos 50 anos na maioria dos países, incluindo Alemanha, Itália, Portugal e Suíça.

Essa discussão não é nova e já acontece há muitos anos. Olha essa notícia de 2015 sobre uma discussão bem parecida que aconteceu no Senado.

Algumas preocupações acabam ficando no ar:

  1. Isso quer dizer que as mulheres abaixo de 50 anos terão o seu exame negado pelo plano de saúde? Não.

Confirmado nesta nota da ANS.

  1. Um programa da ANS deveria seguir a idade de 40 ou 50 anos?
    Na minha opinião 40 anos, que é o que a própria ANS já preconiza na DUT da mamografia

  2. As operadoras podem começar a negar a mamografia antes dos 50 anos?
    Acho pouco provável, porque a DUT do exame é muito clara nesse sentido.

Ok, mas por que o SUS não recomenda o rastreio com 40 anos?

De acordo com a Renata Maciel, chefe da Divisão de Detecção Precoce da Coordenação de Prevenção e Vigilância do INCA (redatora da avaliação sobre mudança do início do rastreio pelo SUS), embora o aumento de casos em mais jovens seja um consenso, faltam estudos clínicos randomizados que comprovem um impacto positivo superior a possíveis riscos de ampliar o rastreamento.

Os trabalhos apontados pela Força-tarefa dos EUA são modelos matemáticos, que fazem uma previsão, de acordo com ela, porém para incorporar com embasamento suficiente uma estratégia ao Sistema Único de Saúde (SUS), ela diz que são necessários trabalhos do tipo que acompanham a iniciativa implementada ao longo do tempo e fazem uma comparação. 🙃 

Minha visão: Será que o SUS não deveria incorporar os achados mais recentes de rastreio? De acordo com as projeções, uma mudança da idade pode levar a uma redução de 19% na mortalidade pela doença.

Agora eu fico pensando…

  • Qual seria o impacto em falso-positivo e biópsias desnecessárias no SUS? Qual seria o impacto financeiro? seria custo-efetivo?

  • Hoje o tempo entre diagnóstico e tratamento é mais de 100 dias pelo SUS. Será que encurtar essa fila não traria o maior impacto em mortalidade?

  • Diminuir a idade de início de rastreio seria uma bala de prata para resolver o problema do câncer de mama no Brasil?

Muitas perguntas e ainda poucas respostas concretas.

O que você acha?

Pode me responder esse e-mail direto : )

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ai-clinician-copilot-report.pdf16.48 MB • PDF Arquivo

💭 Citação

O presidente Jimmy Carter faleceu recentemente, mas poucas pessoas sabem como funcionava o seu acompanhamento próximo de cuidados paliativos e home care.

Por hoje é só!

Mandem feedbacks, é só responder esse e-mail.

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Domingo que vem tem mais,

Abraço!

Thiago Liguori

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