Olá pessoal,

Estamos entrando em uma nova fase dos cartões de desconto de consultas e dos seus donos (as clínicas "populares”).

O que antes era um modelo tímido e com margens baixas, virou a galinha dos ovos da saúde em 2024, com operadoras de saúde querendo entrar na jogada e morder uma fatia do líder do setor - o Grupo Cartão de Todos.

A ANS (Agência nacional de saúde) já anunciou que vai começar uma nova regulação, que deve permitir a entrada de um novo concorrente nesse mercado:

→ Os planos de saúde “segmentados”, que seriam algo bem próximo dos cartões de desconto.

Tempo de leitura : 5 minutos

💬 Em pauta

O sistema de saúde privado sempre teve uma grande lacuna:

→ Atendimento ambulatorial de qualidade, melhor e mais rápido que o SUS.

Hoje no Brasil, apenas 25% da população tem acesso a um plano de saúde, sendo que 75% das pessoas recorrem ao SUS, que engarrafado, peca na agilidade e qualidade em muitas regiões do país.

Isso levou a um crescimento acelerado de uma opção alternativa:

→ Clínicas “populares", ou clínicas que cobram por consulta.

Conhecidas fora do Brasil como retail clinic, walk-in clinic ou out-of-pocket.

O sucesso foi grande e seguido rapidamente por um modelo de assinatura mensal - os cartões de desconto para consultas e exames.

Elas começaram como uma boa proposta de valor para classe C e D, mas hoje atraem também a classe B, com preços das consultas a partir de R$ 100,00 e cartão de desconto a partir de R$ 25,00 / mês, com possibilidade de incluir familiares (e até amigos).

O crescimento do cartão foi tão grande, que muitas empresas que não conseguem arcar com os custos crescentes dos planos de saúde, estão oferecendo cartões de desconto para consultas e exames aos colaboradores.

Um mercado que cresce em um ritmo acelerado.

Um dos cases de sucesso é a Grupo Cartão de todos, o maior cartão de desconto do Brasil, dono das clínicas Amor Saúde.

O grupo foi fundado pelo engenheiro Altair Vilar e dá desconto em consultas médicas, odontológicas, exames laboratoriais, de imagem e medicamentos na RaiaDrogasil.

O que começou com 3 clínicas em São Paulo em 2016, hoje é o líder de mercado com:

→ 450 unidades
→ 6 milhões de famílias conveniadas
→ 18 milhões de atendimentos por ano
→ 12.7 milhões de consultas por ano
→ 12 unidades na Colômbia e 1 no Chile
→ Faturamento de R$ 3.2 bi em 2022

A Diretora de operações da Amor Saúde, Beatriz Kater, relata que 90% dos atendimentos são relacionados à classe C e D.

Para efeito de comparação, o cartão de desconto do Dr. consulta tem apenas 78 mil beneficiários.

Atualmente, no Brasil, os principais cartões de desconto em consultas médicas incluem:

1. Cartão de Todos

Mensalidade: a partir de R$ 26,00.

- Oferece descontos em consultas médicas, exames laboratoriais, tratamentos odontológicos, farmácias, óticas, e até mesmo serviços de assistência jurídica e funeral.

- Destinado a toda a família, com planos que variam em custo e abrangência.

- Amplas parcerias e descontos que podem chegar a 50%.

2. Dr.Consulta

Mensalidade: R$ 34,90.

- Inclui até 4 dependentes.

- Descontos de 20% em procedimentos odontológicos e 15% em medicamentos.

- Consultas com clínico geral por R$ 39 e outras especialidades por R$ 59, com retorno gratuito em até 30 dias se necessário.

3. Cartão Dasa +Saúde

Mensalidade: a partir de R$ 39,90.

- Oferece descontos em consultas (presenciais e online), exames laboratoriais (até 60% de desconto), vacinas, cirurgias, e medicamentos (até 70% de desconto).

- Inclui pronto-atendimento digital ilimitado.

- Pode incluir até 4 dependentes sem custo adicional.

Estima-se que no Brasil existam de 40-60 milhões de pessoas com algum cartão de desconto para consultas e exames.

Com uma fatia tão grande de usuários, outros playera querem entrar em campo.

E estamos vendo uma pequena guerra começando nos bastidores.

Que tem relação com a regulação dos cartões pela ANS e a flexibilização dos planos de saúde ambulatoriais.

Primeiro ponto…

Os cartões de desconto são um tipo de plano de saúde?

Até o momento não era considerado, mas olha essa declaração do diretor presidente da ANS, Paulo Rebello (via Futuro da Saúde):

“Os cartões de benefícios têm um um produto que ninguém mexe, ninguém interfere e ninguém olha o que está sendo feito. Não tem um órgão para que você possa reclamar caso tenha alguma situação ou outra. Ninguém quer ser, nesse caso, regulado. A gente precisa olhar isso com calma. Até porque tem uma decisão judicial e precisamos cumprir.”

E é exatamente o que os planos de saúde querem - entrar nessa fatia de mercado dos cartões de desconto.

Segundo ponto…

Para misturar plano de saúde e cartão de desconto, as operadoras precisam reverter uma resolução n˚13 do Conselho de saúde suplementar de 1998, em que os planos ambulatoriais precisam dar cobertura de 12 horas para urgência e emergência. Algo que, na prática, acaba sempre judicializando e a operadora tem que cobrir a internação hospitalar, o que inviabiliza o modelo.

Por isso, elas querem criar um novo plano de saúde, chamado “plano segmentado” (seria um ambulatorial real oficial), em que a pessoa só teria acesso a:

→ Consultas (clínico e especialistas)
→ Exames laboratoriais e de imagem
→ Terapias

Mas não contemplaria pronto-socorro, cirurgias ou internação hospitalar.

Se derrubada a resolução n˚13 e a ANS regulamentando os cartões de desconto, teríamos uma nova realidade da saúde privada ambulatorial em 2025.

Com grandes empresas de capital aberto entrando na disputa pela fatia de usuários dos cartões.

O que você acha que vai acontecer aqui?

Vou aguardar os próximos capítulos… 👀 

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Via Readwise

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Thiago Liguori